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  A CULINÁRIA ITALIANA

Comida italiana só com pedigree

Para o italiano Giovanni Bruno, a idéia não vai funcionar  Foto: Cleber Bonato/AE-22/1/2001

O Ministério da Agricultura da Itália pretende fiscalizar os restaurantes italianos espalhados pelo mundo para ver se as receitas servidas seguem as originais criadas naquele país

   Os italianos estão querendo saber se as nossas macarronadas são mesmo iguais às que eles fazem lá. O Ministério da Agircultura da Itália anunciou ontem que planeja lançar, ainda este mês, uma agência para fiscalizar os restaurantes italianos espalhados pelo mundo.

   A idéia, segundo o ministro da Agricultura italiano, Giovanni Alemanno, é verificar se as receitas servidas nas cantinas fora da itália são fiéis às receitas tradicionais italianas - ou se o nome 'ristorante italiano' que muitos usam serve apenas como atrativo.

   Para Alemanno, é importante que os pratos vendidos como italianos sejam preparados com ingredientes originais, pois só assim os clientes poderão conhecer melhor a culinária do país e se interessar em procurar esses ingredientes nos supermercados.

   Para o restauranteur italiano Giovanni Brunno - dono do Il Sogno di Anarello, que vive no Brasil há decadas e é um dos responsáveis pela vinda de muitos pratos da culinária italiana para cá - , a idéia do ministro Alemanno não vai funcionar. "Apesar de eu preparar pratos verdadeiramente italianos, não sou contra os restaurantes que fazem adaptações", disse. "Em nenhum lugar do mundo a culinária japonesa é idêntica à do Japão, assim como em nenhum lugar a italiana é igual à da Itália. Acho as adaptações saudáveis", diz Brunno.

   Giovanni Brunno, porém, faz questão de lembrar que o Brasil se sairia muito bem nessa fiscalização por causa do grande número de imigrantes italianos que vieram para cá. "Assim como eu, muitos donos de cantinas que conheço ainda fazem receitas que aprenderam com os pais italianos."

Nada de errado com as adaptações

   Outro aspecto que Giovanni Brunno faz questão de ressaltar: há misturas necessárias para a sobrevivência do restaurante. "Se eu não tiver batatas fritas para servir ao filho do cliente ele vai embora. Vou dizer que não tenho porque não é um prato da Itália?"

   João Lellis, dono da Lellis Tratoria, que funciona há 21 anos em São Paulo, questiona em primeiro lugar se o governo italiano pode fazer isso. "Se puder, posso dizer da minha parte: nós não seguimos rigorosamente as receitas dos prato italianos. Eu aprendi a cozinhar com italianos do Gigetto, portanto eu aprendi a essência da cozinha italiana. Mas, na minha cantina, a gente usa a criatividade -- até pela facilidade de acesso que temos com os produtos."

   Ele afirma ainda que alguns dos seus clientes dizem ir à Itália e voltam decepcionados. "Eles preferem os pratos brasileiros." João Lellis é descendente de italiano mas nasceu na Bahia, por isso optou por incorporar muitos temperos baianos às suas receitas.

Fiscalização pode previnir abusos

   O proprietário da cantina e pizzaria Castelões, Fábio Donato, condena a medida, mas diz que uma regulamentação no meio gastronômico italiano em São Paulo seria salutar. "Acho que seria arbitrário se essa medida viesse de outro país, embora eu mesmo seja descendente de italianos. Mas seria interessante termos uma fiscalização para que os abusos não se proliferassem na cozinha italiana." Ele dá exemplos: "Há muitas pessoas se considerando chefs de cozinha e não são. Há quem não conheça quais os melhores temperos, quem faz combinações absurdas e quem não tem habilidade para preparar insumos. Há problemas na manipulação de carnes, verduras e outros alimentos."

(© Jornal da Tarde)

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