Por Cesar Bianconi
SÃO PAULO (Reuters) - Depois
de quase dois meses sob intervenção judicial, a Parmalat Alimentos está
de novo sob controle da matriz italiana, ainda que algumas decisões da
companhia tenham que passar pelo crivo da Justiça. O destino que será
dado à empresa no Brasil ainda é incerto.
Na quarta-feira, foi indicado
o novo Conselho de Administração da Parmalat Alimentos, com o desafio de
reestruturar as operações brasileiras em meio à grave crise desde a
revelação, em dezembro, de um buraco de bilhões de euros no balanço da
matriz.
Os advogados da Parmalat
italiana e a Justiça brasileira, na figura do juiz Carlos Henrique
Abrão, da 42a Vara Cível de São Paulo, chegaram a um acordo que
substitui a intervenção na companhia por uma "administração
supervisionada".
"A acefalia já passou. Estarei
na empresa diariamente até que uma nova diretoria e presidente-executivo
sejam escolhidos", afirmou Nelson Bastos, indicado para a presidência do
Conselho de Administração da Parmalat Alimentos, que conta com outros
seis membros. Também foi definido o Conselho Fiscal com três pessoas.
Bastos, um dos fundadores da
Gradiente, faz parte da Íntegra Associados, consultoria contratada pela
Parmalat italiana para conduzir a reorganização dos negócios no Brasil.
Segundo ele, não há prazo para que o projeto de reestruturação da
Parmalat Alimentos seja concluído.
Pelo acordo que pôs fim à
intervenção, a nova diretoria e o presidente-executivo --que serão
definidos nas próximas semanas-- terão autonomia para conduzir o
dia-a-dia da empresa. Mas decisões como remessas de recursos ao exterior
e o plano de reestruturação da subsidiária precisarão do aval da
Justiça.
Algumas coisas não mudam: o
regime de moratória dado à empresa pelo juiz Abrão durante a intervenção
continua e o pedido de concordata da Parmalat Alimentos será mantido.
Bastos afirmou que a
PriceWaterhouseCoopers vai analisar os resultados financeiros nos
últimos cinco anos da Parmalat Alimentos e das duas holdings do grupo no
país, a Parmalat Participações e a Parmalat Empreendimentos. A empresa
de auditoria está realizando trabalho similar nas outras subsidiárias da
companhia italiana ao redor do mundo.
FUTURO INCERTO
Há 15 dias, a Parmalat
italiana anunciou um esboço da reorganização mundial do grupo e não
citou o Brasil na lista de países-chave. "A apreciação da Parmalat na
Itália sobre o Brasil ficou prejudicada pela situação de instabilidade
jurídica", justificou Bastos.
Ele admitiu, contudo, que a
subsidiária brasileira tem marcas e atributos que hoje não estão
alinhados com a estratégia global da empresa. Mas não foi específico em
relação aos ativos no país que podem ser vendidos. "Ainda não dá para
falar sobre a venda de ativos. Existe a possibilidade de alguns
segmentos não estarem alinhados com os interesses da Itália", comentou.
Atualmente, a Parmalat
Alimentos opera com cerca de 30 por cento de sua capacidade instalada. A
produção está prejudicada pela falta de recursos para compra de
matéria-prima. A diminuição das operações gerou o corte de 104
empregados na sede em São Paulo, sobretudo na área de vendas. Além
disso, algumas dezenas de empregados --de número não-especificado--
estão sendo demitidos em Jundiaí, interior de São Paulo, onde são
produzidos biscoitos, sucos e chás.
A disputa pelo controle da
Parmalat Alimentos se estende desde fevereiro, quando a diretoria da
companhia, incluindo o então presidente Ricardo Gonçalves, foi
destituída.
Na assembléia desta
quarta-feira, Gonçalves estava presente, na condição de acionista
minoritário. Sua volta é improvável ao quadro da empresa, já que uma das
premissas do acordo que devolveu o controle da Parmalat Alimentos aos
italianos é a indicação de novos executivos para comandar as atividades.