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"Em Memória de Stradelli", conde italiano que viveu no Amazonas

03/09/2001

 

 

CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

   Uma obra rara de Luís da Câmara Cascudo está sendo relançada agora por uma editora de Manaus: "Em Memória de Stradelli", livro em que o folclorista potiguar traça um perfil do conde Ermanno Stradelli (1862-1926), italiano que trocou seu país pelo calor e vida selvagem do Norte do Brasil.

   Stradelli viveu no Amazonas durante 43 anos, de 1879 até sua morte, entremeados de curtos períodos na Itália. Publicou alguns trabalhos sobre a região, mas sem rigor científico; são relatos e impressões de viajante que deixaram Cascudo encantado pelas descrições "literárias e amorosas" dos costumes e do dia-a-dia dos nativos da região.

   Chega a ser engraçada a maneira como o escritor tenta definir as narrativas de Stradelli, expostas, por exemplo, na introdução a seu "Vocabulário Nhengatu-Português e Português-Nheengatu", espécie de dicionário da língua falada pelos povos indígenas do Norte, ainda hoje utilizado como referência por pesquisadores.

   Além do "Vocabulário", Stradelli publicou, em italiano, "La Leggenda dell'Jurupary", sobre o demônio mitológico que assombra os índios, "Rio Branco" e "L'Uaupes et gli Uaupes", todos fora de catálogo no Brasil.

   "Como narração de viagem, Stradelli é desconcertante", escreve Câmara Cascudo. "Não traz um só episódio sensacional. (...) Nem serpentes, jacarés e onças aparecem nas páginas tranquilas da história singela. (...) O extremo valor de sua jornada está justamente na nobre simplicidade com que a fotografou."

   A vida do conde Stradelli, morto pela hanseníase (Cascudo usa a palavra "morféia" para a doença) aos 64 anos, foi pesquisada por Câmara Cascudo durante 18 meses, por meio de cartas e informações que vinham da Itália e dos lugares do Brasil por onde passou. É de se imaginar como seria hoje pesquisar a biografia do conde, cuja trajetória daria, sem dúvida, um filme e tanto.

   A edição traz alguns problemas, como a falta de tradução para os trechos que Cascudo transcreve em italiano, diretamente dos livros de Stradelli.

   Fazem falta também notas explicativas sobre termos como "tariano" (povo indígena do Alto Rio Negro) ou "ameraba" (para "ameríndio"), fartamente utilizados no livro. Causa estranheza ainda a manutenção do prefácio um tanto ufanista escrito pelo historiador Arthur Cezar Ferreira Reis, que governou o Amazonas durante o regime militar.

(Folha de S. Paulo)

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