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Migrazioni ItaliaOggi

 

A saga do pescador espanhol que salvou 51 imigrantes à deriva no Mediterrâneo

20/07/2006

Hugo Gonçalves
em Madrid

Bautista Molina partilhou um espaço de 50 metros quadrados com os seus nove companheiros de pesca e os 51 imigrantes que encontrou à deriva no Mediterrâneo - homens e mulheres que tentavam libertar-se da pobreza africana e alcançar o sonho europeu. De onde se encontrava, e durante cinco dias, Molina podia admirar a costa de Malta, país da União Europeia que, quando soube o que transportava o pesqueiro espanhol, enviou um barco-patrulha, a fim de impedir que atracasse.

Nas fotografias que o capitão do barco, José Durá, enviou à sua mulher, via telemóvel, podia ver-se como os imigrantes se acomodavam entre material de pesca, dormindo sobre sacos de plástico, ou como rodeavam uma enorme travessa de esparguete, esticando os dedos para a comida. Bautista Molina contou que pediu talheres, champô e comida, ao saber que polícias espanhóis os visitariam, de forma a identificarem os imigrantes: "Estas pobres pessoas não deveriam ter de comer com as mãos. Temos uma máquina para fazer água potável, por isso podem lavar-se. Estamos sempre disponíveis, se precisam de um copo de leite... Mas estamos um pouco cansados." E quando uma rádio, por telefone, o questionou sobre um possível arrependimento, respondeu: "Não ponham em dúvida que o voltaríamos a fazer, uma ou cem vezes. Não se pode deixar uma pessoa... Não queria levar o resto da minha vida a pensar que não tinha feito a coisa certa."

Na manhã de ontem, as autoridades maltesas, informadas do estado de saúde de alguns imigrantes, transferiram uma grávida, e uma mulher doente, acompanhada pela filha, para um hospital. Também autorizaram a entrada no barco de dois polícias espanhóis - sabe-se agora que 45 imigrantes são da Eritreia, cinco de Marrocos e um do Paquistão. O Governo de Madrid tentou, junto de Malta, mas também da União Europeia, encontrar uma solução para o problema. E ao fim da tarde os tripulantes do pesqueiro foram informados de que os imigrantes poderiam desembarcar hoje, por volta do meio--dia. Um avião irá transportá-los depois para território espanhol.

Bernardino León, secretário de Estado dos Assuntos Exteriores de Espanha, afirmara que, segundo a lei marítima, seria a Líbia, e depois Malta, que deveriam receber os imigrantes. Mas o Governo maltês pôs sempre a responsabilidade nos espanhóis, que os resgataram, e Bernardino León acabou por dizer: "Por cima das considerações legais existe a possibilidade de acolhermos alguns destes imigrantes", acrescentando que o "carácter humanitário" é mais importante. Também o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, presidido por António Guterres, pediu ao Governo de Malta para receber, ainda que de forma temporária, os 51 imigrantes.

O carácter absurdo deste episódio - a teimosia dos malteses contra a boa vontade da tripulação - tornou-o mais mediático, mas quase todos os dias chegam a Espanha, ou são encontradas à deriva no Mediterrâneo, embarcações com africanos. É rara a manhã em que um diário não traz pelo menos uma pequena notícia sobre a captura de mais uma patera ou cayuco - nomes dados aos barcos usados nas travessias. Num fim-de-semana de Maio, chegaram às ilhas Canárias mil imigrantes. Ontem, foi encontrada à deriva uma patera com 40 pessoas, entre as quais um bebé, a dez milhas da costa da ilha de Fuerteventura. O bebé, doente, foi transportado por um helicóptero, mas acabou por morrer. Os restantes foram resgatados por um barco da marinha.

(© DN Online-Portugal)

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