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Migrazioni ItaliaOggi

 

O trabalho de imigrantes na Itália: oportunidades e burocracia

10/11/2006

Nazarenno Mollicone 

Questura de Roma, no bairro Flaminio Nuovo, um dos locais onde podem ser apresentados documentos para a solicitação do permesso de soggiorno.

Por Olivia Bertolino, de Roma

De acordo com dados do Ministério do Trabalho na Itália, referentes a 2005, existe no país um milhão de italianos "desocupados”. Esse número se deve ao fato de parte da população não estar disposta a fazer trabalho “braçal” ou que represente desprestígio social, exercendo funções como pedreiro, empregada doméstica e acompanhante de idosos.  Estas são profissões normalmente desempenhadas por imigrantes que chegam ao país vindos de diferentes Continentes: do leste Europeu (Albânia e Romênia), do norte da África (Argélia, Marrocos e Líbia), da América do Sul (Chile, Peru e Brasil) e da Ásia (Filipinas e Bangladesh).

Os filipinos, peruanos e brasileiros, geralmente, trabalham como empregados domésticos, acompanhantes de idosos, babas e, no setor de serviços, como funcionários de hotéis. Os marroquinos atuam, na maior parte, como comerciantes ambulantes ou donos de postos telefônicos. Já os romenos, predominantemente, trabalham na construção civil.

A idade desses imigrantes costuma variar de 23 a 35 anos. A maioria completou os estudos até o ensino médio, mas há aqueles que, embora tenham cursado a universidade em seus países de origem, exercem funções menos valorizadas na Itália.

As oportunidades de trabalho são atraentes na Itália para os imigrantes, no entanto não basta querer. É preciso mais do que isso.

Atualmente, na Itália, há cerca de 2,5 milhões de imigrantes extracomunitários (pessoas oriundas de países que não fazem parte da União Européia). Aproximadamente, um milhão destes vivem de forma ilegal no país, ou seja, não possuem o permesso de soggiorno (permissão de permanência), no caso dos trabalhadores, permesso de soggiorno de lavoro. Esta permissão dá o direito de trabalhar na Itália e de ter acesso a assistência médica.

Segundo dados do Ministério do Interior, em 1998 foram concedidos 1.090.820 permisso de soggiorno, computados os de trabalho, turismo e de estudante. Em 2003, este número passou para 2.227.567. Desses, 36% para a América do Sul, sendo 11,34% somente para oriundos do Brasil.

Há duas formas de se obter o permesso de soggiorno: por iniciativa do empregador, que faz a solicitação junto aos ministérios do Trabalho e do Exterior italianos, e ao Governo brasileiro - o que pode demorar até um ano. A outra opção, pouco aconselhada, é ir para a Itália como turista e torcer para que o governo italiano determine a sanatoria, que é uma lei que regulariza todos os trabalhadores ilegais.

- De tempos em tempos, o governo italiano se dá conta de que há muitos trabalhadores irregulares, e então decreta a sanatoria que torna legal aqueles que já estão trabalhando no país - explica Nazzareno Molicone, secretário Confederale, da União Geral do Lavoro, entidade que cuida dos direitos do trabalhador na Itália. Segundo Nazareno, está em curso uma tratativa do governo italiano com o de outros países para a criação de escritórios locais que cadastrem os interessados em trabalhar na Itália. “Estamos tratando disso, mas ainda não há data para que exista um escritório em todos os países, mas queremos fazer isso brevemente”, garantiu.

Um imigrante regularizado, dependendo da profissão, uma acompanhante de idosos, por exemplo, ganha em média 900 euros por mês, mais assistência médica.

O imigrante ter o sobrenome italiano ajuda, ainda que isso não assegure nada. “Com certeza, é mais fácil o descendente de italiano estar aqui e se habituar, temos a tendência de procurar alguém parecido conosco”, ressalta Nazareno.

(© Oriundi)


CINEASTA PREMIADO EM SÃO PAULO DISCUTE DRAMA DA IMIGRAÇÃO NA ITÁLIA

Por ALINE BUAES

SÃO PAULO (ANSA) - O drama da imigração africana para a Europa, temática rara no cinema europeu, retratado por um cineasta sobrevivente da época em que a política dominava os roteiros dos filmes italianos e que defende a "função cultural do cinema", foi apresentado em São Paulo pelo mestre Vittorio De Seta, que recebeu o Prêmio Humanidades na premiação da 30ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Aos 83 anos, após passar quase 20 anos longe do mundo do cinema, De Seta, que recebeu o Prêmio de Melhor Filme no Festival de Veneza de 1961 pelo filme "Banditi a Orgosolo", voltou à ativa com "Cartas do Saara" (2006) motivado em "interpretar a realidade" da dramática imigração africana, que todos os anos leva milhares de pessoas a atravessarem o Mar Mediterrâneo em busca de uma vida melhor nos países europeus.

"Cartas do Saara", apresentado este ano em Veneza dentro de uma mostra especial, conta a história de um jovem imigrante clandestino do Senegal, que interrompe seus estudos para emigrar para a Itália. De Seta, que escolheu um tema ignorado pela maior parte dos artistas italianos, conta que levou dez anos para escrever o roteiro e que utilizou como fonte de informações diversos romances publicados na Itália por jovens imigrantes provenientes do norte da África.

Em conversa com a ANSA, o diretor, que foi convidado pela Mostra de Cinema de São Paulo no âmbito da Retrospectiva Cinema Político Italiano dos anos 60 e70, afirma que escolheu o tema da imigração, "tão dramático na Itália e na Europa de um modo geral", para mostrar sua mensagem de "otimismo" e salientar que o cinema também possui "uma função cultural, não apenas de diversão".

"É preciso construir uma civilização multiétnica juntos, é a única solução", defende o cineasta, que lembra que "a indústria italiana também precisa disto, estamos cheios de imigrantes trabalhando por lá, é preciso encontrar uma solução para essas milhões de pessoas que chegam do mundo todo".

O diretor, que admitiu que a boa recepção do filme entre o público italiano surpreendeu a todos da equipe de trabalho, explicou à ANSA que foi procurado principalmente por professores e diretores de escolas públicas, que desejam projetar o filme para seus alunos devido à importância do tema tratado, pois "nas escolas italianas, 10% dos alunos são estrangeiros não-europeus".

De Seta confirma, deste modo, sua tendência a buscar retratar no cinema a realidade, especialmente a temática dos povos marginalizados. Os pastores sardos retratados em "Banditi a Orgosolo" eram marginalizados "porque eram considerados bandidos" na Sardenha dos anos 60, enquanto os imigrantes africanos retratados em "Cartas do Saara" são marginalizados porque "passam meses como clandestinos esperando por um visto de permanência" na Itália dos anos 2000.

Sobre o público brasileiro, o diretor acreditava que apenas a poesia de "Cartas do Saara" poderia ser compreendida totalmente, mas "o argumento principal talvez não, pois aqui não existe esta temática da imigração", mas ao longo da conversa reconheceu a semelhança com as migrações internas, especialmente do Norte e Nordeste para o sudeste do Brasil.

(© Ansa Latina)

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