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Migrazioni ItaliaOggi

 

Berlusconi quer punir com prisão imigrantes irregulares

04/06/2008

Jornalista entrevista presos em operação contra imigração ilegal em Roma, na Itália

O governo do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, estuda um pacote sobre a segurança pública centrado na redução da imigração clandestina. Os imigrantes que se instalarem na Itália sem autorização estarão sujeitos a uma pena de quatro anos de prisão.

As medidas começaram a ser definidas na terça pelo novo ministro do Interior, Roberto Maroni, um dos principais dirigentes da xenófoba Liga Norte. Ele definirá uma política antiimigratória em cinco pontos que definirá regras bilaterais com outros países da União Européia. A medida visa sobretudo a Romênia, país de origem de 600 mil imigrantes, parte dos quais é cigana, segundo a entidade assistencial Caritas.

A mídia conservadora acirra o sentimento contrário aos ciganos, segundo a BBC. Os últimos incidentes, com a queima de acampamentos, ocorreram em Nápoles, a partir do boato de que uma cigana tentou seqüestrar um bebê de seis meses.

O governo central italiano também aplicará uma lei votada há dois anos que dá às autoridades municipais poderes especiais para designar grupos ou indivíduos estrangeiros passíveis de expulsão. Roma e Milão já se credenciaram no mecanismo.

Há medidas de prevenção à criminalidade praticada por estrangeiros e, por fim, normas de combate ao crime organizado.

Paralelamente, o novo ministro das Relações Exteriores, Franco Frattini, baixará diretrizes que condicionam o ingresso na Itália de imigrantes de outros países europeus a uma renda familiar suficiente para não sobrecarregar serviços de assistência ou não estimular de modo indireto a criminalidade.

(© Folha de S. Paulo)


Operação contra imigração ilegal prende 383 na Itália

Stephen Brown
Em Roma

A polícia italiana anunciou na quinta-feira a prisão de 383 pessoas numa operação contra imigrantes ilegais, num sinal de que o novo governo conservador está mesmo determinado a combater a imigração fora da lei.

Entre os presos há 268 estrangeiros, dos quais 53 foram imediatamente levados até alguma fronteira para serem expulsos. A operação durou uma semana, de norte a sul do país.

O combate à imigração ilegal foi uma das principais promessas na campanha eleitoral que deu um terceiro mandato de premiê a Silvio Berlusconi. Muitos italianos conservadores atribuem a criminalidade à imigração, e Berlusconi diz estar preparando leis destinadas a prender ou expulsar mais estrangeiros que violem as leis.

Na operação desta semana, os presos eram oriundos da Europa Oriental, Grécia, África do Norte e China. São acusados de entrar ilegalmente no país e, em alguns casos, de praticar prostituição, narcotráfico e roubos.

O delegado italiano encarregado da operação, Francesco Gratteri, disse em entrevista coletiva que não havia "nenhuma categoria ou grupo étnico específico" sendo visado. "O único objetivo eram criminosos que têm causado uma sensação de crescente alarme na sociedade."

Na Líbia, a polícia deteve nos últimos quatro dias 240 pessoas de vários países africanos que tentavam cruzar o Mediterrâneo em direção à Itália, segundo o ministério local do Interior.

(© UOL Últimas Notícias)


"Mal-estar europeu é superficial"

Para o historiador Bernard Wasserstein, não há crise estrutural nem animosidade generalizada contra imigrantes

Acadêmico inglês diz que hoje identidade européia é "atitude moral e política" e independe de gênero e cor; insatisfações são localizadas


SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o velho continente permanece como um pólo de hiperdesenvolvimento e prosperidade, parece longe o tempo em que ostentava o título de maior centro mundial de poder. Berço da civilização ocidental, a Europa viu evaporar nas últimas décadas boa parte de sua influência comercial, cultural e diplomática, até chegar ao marasmo atual. Em meio a apatia econômica, greves, protestos e aumento da xenofobia, os europeus questionam seu papel na globalidade do século 21.
É essa trajetória declinante, feita de traumas e sobressaltos, que o historiador inglês Bernard Wasserstein, 60, analisa em "Barbarism and Civilization" (2007, sem tradução no Brasil). Nesta entrevista à Folha por telefone desde Amsterdã, ele falou sobre as mudanças na consciência coletiva européia e defendeu uma visão positiva do futuro, minimizando a morosidade econômica e os problemas ligados à imigração.

FOLHA - Qual a diferença entre ser europeu hoje e há um século?
BERNARD WASSERSTEIN
- Há cem anos, ser europeu significava essencialmente ser um homem branco e parte de uma sociedade que dominava o mundo. Hoje, ser europeu significa ser um homem ou uma mulher -não devemos esquecer que a igualdade de gênero não existia- e não necessariamente branco. Outra diferença é que a Europa perdeu espaço e já não domina a humanidade. Os impérios europeus ruíram, o soviético por último. As superpotências deixaram de ser européias. Por fim, hoje, principalmente em países pequenos como a Holanda, o conceito de ser europeu é uma atitude política e moral. Antigamente a idéia de ser europeu não existia. As pessoas se diziam alemãs, francesas...

FOLHA - Por que a Europa perdeu espaço no mundo?
WASSERSTEIN
- Há várias razões, as principais sendo as duas guerras mundiais e suas amplas conseqüências. Outro motivo é o efeito da construção dos impérios europeus. Quando a Europa dominava o mundo, ela impôs seus valores e infra-estrutura a outras sociedades, permitindo que estas se desenvolvessem por conta própria, como a Índia. Há visões positivas e negativas do imperialismo, mas é inegável que ele espalhou meios modernos de comunicação, estradas, ferrovias, investimento. Idéias e padrões europeus de educação acabaram estimulando os países a se voltarem contra a Europa para se tornarem independentes.

FOLHA - A crise econômica é uma razão ou uma conseqüência do declínio europeu?
WASSERSTEIN
- Não acho que haja crise econômica. O que existe é uma crise financeira significativa, o que é muito diferente. As economias européias estão indo bem. Até a França e a Alemanha crescem mais do que há dez anos. Talvez estejamos no meio da curva negativa de um processo cíclico, mas não numa crise estrutural como a dos anos 70. Há até quem esbanje crescimento, como os novos membros da UE.

FOLHA - Vendo os constantes protestos e greves, tem-se a impressão de que os europeus estão insatisfeitos, embora desfrutem da melhor qualidade de vida no mundo. WASSERSTEIN - As greves no Reino Unido não se comparam ao que ocorreu nos anos 70, e os protestos na França também estão longe do que foi 1968. O que acontece são reações de segmentos da sociedade às inevitáveis mudanças trazidas pelo avanço econômico. Hoje o problema é superficial.

FOLHA - O senhor vê relação entre os problemas da Europa e o surgimento de novas potências? Os europeus têm medo da China?
WASSERSTEIN
- Alguns setores de trabalhadores temem que as fábricas sejam removidas para regiões com mão-de-obra mais barata. A indústria manufatureira corre sério risco de desaparecer em algumas partes da Europa. Por outro lado, os europeus estão preocupados com a alta do petróleo. A Europa precisa importar a maior parte de seu consumo. Uma das alternativas é a energia nuclear, mas ela enfrenta rejeição popular. Os protestos contra a China têm a ver com o fato de o país não ser uma democracia e ostentar comportamento político e valores opostos aos que a imensa maioria dos europeus vê como padrões de conduta.

FOLHA - Até que ponto o mal-estar da Europa está ligado à forte presença de imigrantes não-europeus?
WASSERSTEIN
- Eu moro em Amsterdã, cidade que concentrou alguns dos problemas surgidos nos últimos anos. Apesar dos ímpetos xenófobos de parte da população, a cidade é um exemplo de harmonia racial. E há muitos lugares assim. Diante da enorme escala migratória na UE nas três últimas décadas, há surpreendentemente poucos violência e problemas.

FOLHA - Mas partidos de extrema-direita se fortalecem e o discurso xenófobo se banaliza entre políticos...
WASSERSTEIN
- Estou preocupado com a extrema direita na Áustria e na Itália. Ela também tem força em alguns contextos, como na região belga de Flandres. Por outro lado, a extrema direita é insignificante na Alemanha ou no Reino Unido. Na França, o fenômeno [Jean-Marie] Le Pen esvaiu-se. Alguns atribuem isso ao fato de Sarkozy ter cooptado o voto xenófobo, mas ele não só não é fascista como descende de judeus.

FOLHA - Os europeus sofrem de um complexo de superioridade?
WASSERSTEIN
- Alguns sim, outros não. Os jovens alemães, por exemplo, são muito conscientes do perigo de ver o mundo dessa forma. Isso explica a força do sentimento pacifista na Europa em geral. Os americanos reclamam que os europeus contribuem pouco com a Otan [aliança militar ocidental], mas isso reflete sua preferência pelo soft power [poder de persuasão pela diplomacia, cooperação e influência cultural]. A Europa não tem mais estômago para guerras longas.

(© Folha de S. Paulo)
 

 

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