Um amplo mapeamento do cenário populacional no Estado de São Paulo, a partir
da proibição do tráfico negreiro, em 1850, é a proposta da primeira edição da
trilogia que a Editora da Universidade Estadual Paulista (Editora Unesp) acaba
de lançar, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp). Trata-se do livro Atlas da Imigração Internacional em São Paulo
1850-1950, com dados sobre a imigração estrangeira e a distribuição espacial dos
imigrantes.
A publicação traça “um panorama das mudanças demográficas ocasionadas pelos
movimentos migratórios em São Paulo, numa mistura de transformações que foram
também sociais, culturais, econômicas e políticas”, diz a pesquisadora do Núcleo
de Estudos da População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
Maria Silvia Bassanezi, uma das autoras.
Os dois outros volumes que integram a trilogia são o Repertório de Legislação
Brasileira e Paulista Referente à Imigração, que reúne as leis para São Paulo
referentes à imigração, elaboradas nos níveis estadual e federal, e o Roteiro de
Fontes sobre a Imigração em São Paulo 1850-1950, que analisa a documentação
relativa às várias etapas do processo migratório no Estado.
“Juntos, os três livros serão ferramentas de trabalho para pesquisadores da
história, antropologia, sociologia, geografia e demografia”, explica Maria
Silvia. “Há imagens de trechos de documentos de época e muitas fotos que
dialogam com os dados estatísticos”, conta a pesquisadora.
Além de Maria Silvia, professora de pós-graduação do Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, assinam as publicações Carlos de Almeida
Bacellar, docente de História da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador
do Arquivo do Estado de São Paulo (Aesp), Ana Silvia Volpi Scott, da
pós-graduação em História da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), e
Oswaldo Serra Truzzi, professor de pós-graduação em Ciências Sociais e
Engenharia de Produção da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Economia cafeeira – De acordo com o atlas, que traz também dados relativos à
população escrava no período imperial, entre as últimas décadas do século 19 e o
início dos anos 1970, o Brasil recebeu cerca de 5 milhões de estrangeiros, dos
quais 2,8 milhões entraram no Estado de São Paulo. Entre esses, havia cerca de
um milhão de italianos (36%), seguidos pelos portugueses (20%), espanhóis (16%)
e japoneses (8%).
No caso particular de São Paulo, o rápido crescimento da economia cafeeira
gerou capital para subsidiar a imigração estrangeira e seus desdobramentos, como
a expansão da rede ferroviária, industrialização e urbanização. Esse fato,
aliado às importantes reformas institucionais e políticas, entre as quais a Lei
de Terras, de 1850, e a abolição da escravatura, em 1888, criaram condições
favoráveis para a imigração em grande escala.
“A imigração para São Paulo, no período que vai de meados dos anos 1880 ao
final dos anos 1920, foi beneficiada pela política migratória adotada, cujo eixo
encontrava-se subordinado aos interesses da cafeicultura. Na perspectiva do
imigrante, os subsídios e a esperança de ter acesso à terra, veiculados pelas
propagandas na Europa, tornaram o destino brasileiro atraente até as três
primeiras décadas dos século 20”, explica Maria Silvia.
Serviço
• Atlas da Imigração Internacional em São Paulo 1850-1950
144 páginas; formato: 29, 5 x 35,7 cm; Preço: R$ 140
• Roteiro de Fontes sobre a Imigração em São Paulo 1850-1950 320 páginas;
formato: 17, 3 x 24 cm; preço: R$ 50
• Repertório de Legislação Brasileira e Paulista Referente à Imigração 136
páginas; formato: 17, 3 x 24 cm; preço: R$ 40
Quatro fases na chegada dos imigrantes
O atlas divide a evolução da entrada dos imigrantes no Brasil e no Estado de
São Paulo, especificamente de 1870 a 1970, em quatro momentos. O primeiro foi
marcado pelo fim da transição do trabalho escravo para o livre, rápida expansão
da cafeicultura no oeste paulista, início da política de subsídios à imigração e
entrada maciça de imigrantes, principalmente italianos. O período terminou em
1902, quando a Itália passou a dificultar a emigração subsidiada ao Brasil, ao
mesmo tempo em que a crise da cafeicultura no País, desencadeada no final do
século 19, se encontrava em pleno vigor.
“O segundo momento teve como referências as políticas de valorização do café
no Brasil, o aumento expressivo da imigração de portugueses e espanhóis e o
início da imigração japonesa. Sua interrupção ocorreu devido à Primeira Guerra
Mundial e, em menor escala, à expansão da gripe espanhola de 1918”, indica o
atlas.
O terceiro foi marcado pela recuperação da lavoura cafeeira, pelo
desenvolvimento de outros setores da economia nacional após a Primeira Guerra
(1914-1918) e pelo aumento de imigrantes vindos do Leste Europeu, de Portugal e
do Japão. O quarto momento começou depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945),
com o afrouxamento das restrições à imigração, apesar de ter apresentado volume
de entradas bem inferior aos três momentos que o precederam.
“O terceiro e quarto momentos caracterizam-se, em São Paulo, pela expansão da
indústria, que implicou alterações no mercado e na organização das relações de
trabalho, em movimentos populacionais mais centrados nas migrações internas que
internacionais, além da urbanização mais intensa”, relata a publicação. (Thiago
Romero - Da Agência Fapesp)