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Crise econômica leva a aumento de legislação e manifestações anti-imigrantes na Europa

15/04/2009

Foto:Tiziana Fabi/AFP

Uma manifestação contra o racismo reunindo milhares de pessoas em Roma, após ataques violentos contra imigrantes na Itália

Edilson Saçashima
Do UOL Notícias
Em São Paulo

Os dados econômicos que são divulgados diariamente não deixam dúvidas sobre a gravidade da crise que atinge todos os países. Ela pode ser medida por meio dos números sobre retração econômica, queda de produtividade e aumento de demissões. Porém, há um outro efeito produzido pela crise que ainda parece nebuloso, mas que já pode ser visto como um sinal de alerta. Nota-se uma maior aversão ao imigrante nas principais economias do mundo. Partidos considerados de extrema direita ganharam maior apoio popular nos últimos tempos. Ataques às minorias étnicas e aos imigrantes, se ainda não podem ser considerados recorrentes, ganham destaque na mídia. Países implementam políticas mais duras de imigração. A xenofobia estaria aumentando em decorrência da crise econômica?

Pesquisa publicada pelo jornal "Financial Times" em março mostra que mais de três quartos dos italianos e dos britânicos e a maioria na França, na Alemanha, na Espanha e nos Estados Unidos apoiariam que os governos pedissem que os imigrantes deixassem o país. Nesses países, a taxa de desemprego sofreu um grande aumento com a crise econômica. No Reino Unido, por exemplo, o desemprego atingiu os números mais altos em uma década.

Entre exemplos de medidas recentes contra imigrantes, o Senado italiano aprovou, em fevereiro, um projeto que permite a médicos denunciarem os imigrantes à polícia. França e Espanha incentivaram, por meio de leis, o retorno voluntário de imigrantes. O governo espanhol propôs ainda uma reforma na lei de imigração, ainda por ser votada, que prevê multa para quem der ajuda a imigrantes ilegais.

Os dados do desemprego explicam, de certa forma, o porquê de o imigrante ser o elo mais frágil na cadeia produtiva de uma economia. Em tempos de crise, ele, em geral, se torna o alvo principal dos ataques do trabalhador nativo. "Os imigrantes, por princípio, não são cidadãos. Eles são vistos como os que vieram de foram para trabalhar. No país, eles ocupam um espaço e um trabalho que o nativo não quer fazer", diz o demógrafo Duval Magalhães Fernandes, professor da PUC-MG. "Em geral, em épocas de crise, o imigrante é sempre o diferente", acrescenta.

Aumento da xenofobia?

No Dia Internacional contra a Discriminação Racial, celebrado no último dia 21, três organizações europeias, entre elas o Conselho Europeu contra o Racismo e a Intolerância, divulgaram uma nota conjunta em que se diziam estar "alarmadas com os relatos que dão conta de ataques violentos contra imigrantes, refugiados e exilados políticos, e minorias como os ciganos". "A história europeia mostra como a depressão econômica pode levar à exclusão social e à perseguição. Estamos preocupados que, em tempos de crise, os migrantes, as minorias e outros grupos vulneráveis, se tornem o 'bode expiatório' para políticos populistas e para a mídia", escreveram.

No entanto, a aversão ao estrangeiro não seria produto direto da crise. "A xenofobia já existia antes da crise. Ainda é difícil dizer se ela aumentou com a crise econômica", diz Catherine de Wenden, cientista política e diretora do Centro de Estudos e de Pesquisas Internacionais da Fundação Nacional de Ciências Políticas de Paris.

Wenden vê a adoção de leis de imigração mais duras nos países europeus, em especial contra os imigrantes não qualificados. "Mas são ações anteriores à crise, não são medidas novas", diz. Segundo a cientista política, o endurecimento da política de imigração se diferenciaria de uma atitude xenofóbica por buscar deter a entrada de um certo tipo de estrangeiro, como os trabalhadores não qualificados e os radicais islâmicos. "Já a xenofobia é o ódio ao estrangeiro", diz.

Fernandes, por sua vez, acredita que exista uma tendência xenofóbica nos países europeus. "O discurso antiestrangeiro encontra terreno fértil junto às pessoas que perderam o emprego e o crescimento da extrema direita demonstra isso", diz.

"O monstro do nazismo e do fascismo não foi destruído. Ele está latente, presente", sugere o demógrafo. Ele cita como exemplo o caso da brasileira que disse ter sido atacada por neonazistas na Suíça. "O episódio se mostrou uma farsa, mas, na época, todos aceitaram a versão dela. O caso não foi considerado absurdo. Se tivesse ocorrido no Brasil, haveria um grande estranhamento", diz.

(© UOL Últimas Notícias)

 

 

 

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