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Brasil-Itália: Grafite enlaça e explode a pintura

Higraff é autor de "Brilho da Força", da série "Aspectos da Força"
 

No Ibirapuera, mostra examina estrada de mão dupla entre os dois universos

Jotabê Medeiros

Está no Ibirapuera, no MAC-USP, a exposição Street Art - Do Graffiti à Pintura, seleção de 60 trabalhos em tela ou madeira de dez grafiteiros italianos e dez brasileiros. Os curadores são, pelo lado brasileiro, Fábio Magalhães, ex-Masp e ex-Memorial da América Latina; e pelo lado italiano, Vittorio Sbargi, atual secretário de Cultura de Milão.

A mostra permite um saudável exame da questão da 'entronização' do grafite, ou de sua aceitação pelo establishment. O próprio nome da mostra já parece provocar: se se passa 'do grafite à pintura', então quer dizer que o grafite é algum tipo de estágio primitivo inferior? E a pintura seria o Olimpo das artes visuais?

'O que eu quis dizer é que nós estamos tirando o grafite da rua e dando a ele o suporte de pintura, que é o painel. Não há ingenuidade: estamos deformando o caráter do grafite porque é inevitável. Eu podia ter optado por trazer os artistas para pintar a parede do museu. Ainda assim, estaria deformando, porque parede do museu não é o muro da cidade, não é a empena de um prédio, um viaduto', diz o curador Fábio Magalhães. 'Prefiro esse sistema do que dar uma ilusão de que não se está deformando o grafite.'

As relações entre grafite e pintura, em geral, pressupõem que o primeiro é um artista popular, naif, e o segundo necessariamente um erudito. Não é o que se vê, por exemplo, na maior expressão internacional do grafite, o americano Jean-Michel Basquiat (1960-1988), que morreu de overdose aos 27 anos em Nova York, onde nasceu. A obra de Basquiat dialogou com grande impacto com precursores como Picasso e Matisse e mesmo com as lições de anatomia de Leonardo da Vinci.

Mas Basquiat usava a referência apenas para construir pontes e afirmar sua originalidade, baseada em um estilo único. Na exposição do MAC Ibirapuera, é possível notar que alguns artistas, como o italiano Marco Mantovani, o Kayone, parecem em algum momento apenas pálidos pastiches de outros consagrados, como Jackson Pollock. Às vezes, é difícil definir uma fronteira entre um e outro mundo: o grafite no museu parece apenas o trabalho de um pintor ainda em formação.

Para Fábio Magalhães, a pintura informa o grafite, mas hoje também contém elementos do grafite. 'É uma estrada de duas mãos', pondera. 'O grafite caminha em outra direção. Sua origem está na pichação. Originalmente, eram grupos, gangues ligados ao universo do hip-hop e das histórias em quadrinhos. É todo um outro mundo, que não está alheio às artes plásticas, mas corre em outras direções. Inicialmente, os primeiros nomes de guerra eram os nomes de suas ruas em Nova York. Isso cresce e leva a uma guerra de alfabetos. O Brasil teve sua fase também, com aquelas pichações do tipo 'cãofila'. Nessa trajetória, a técnica é muito importante, basicamente fundada no aerosol e na máscara. Depois, isso vai ganhando uma plasticidade maior, mais colume, dimensão, cor. Muitos dos grafiteiros são pichadores que abandonaram a pichação.'

Magalhães foi um dos primeiros a organizar uma mostra do artista plástico Alex Vallauri (1949-1987), que fez o caminho inverso, saindo das galerias para as ruas e iniciando todo um movimento em São Paulo.

Sua exposição não tem obras das novíssimas estrelas do grafite paulistano, os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, codinome osgêmeos. Problema de agenda dos irmãos. Eles hoje são os mais famosos grafiteiros do País no Exterior, com obras em diversos museus internacionais, e são representados pela Galeria Fortes Vilaça (outras galerias já são especializadas em grafite, como a Choque Cultural e a Grafiteria).

Entre os brasileiros que integram a mostra estão o próprio Boleta, César Profeta, Bugre, Highraff, Prozak, Ndrua, Smael, Tim Tchais, Yá! e Zezão. Os italianos são Cano, Kayone, Led, Leo, Filippo Minelli, Pho, Francesco Pogliaghi, Rae Martini, Verbo e Wany.

Magalhães destaca vários dos seus escolhidos, e faz um parêntese especial no grafiteiro Zezão. 'Ele faz uma obra ainda ligada à estrutura dos alfabetos, símbolos góticos em volta de bueiros, coisas assim. E depois parte para a abstração lírica. E faz tudo com aerosol, usa a expressão de rua para pintar com grande sofisticação.' Há também revelações, como a grafiteira Yá!, que usa técnicas mistas (até pedaços de tecidos) em suas obras.

Magalhães também aborda o desenvolvimento do graffiti nas cidades onde ele se desenvolveu com mais naturalidade: São Paulo, Tóquio, Nova York. 'Faço parte da geração dos anos 60 e fomos influenciados pelos movimentos estudantis de 1968 em Paris. A famosa pichação 'é proibido proibir' marcou nossa geração', diz. Na Itália, onde também é muito forte, a manifestação é mais espalhada, considera. O próprio vocábulo 'graffiti' é palavra italiana, forma plural do italiano graffito, que deriva do latim graphium, originalmente usado para descrever um estilete de ferro ou bronze utilizado para escrever sobre tábuas de cera.

Otávio e Gustavo Pandolfo, a consagrada dupla de grafiteiros osgêmeos, detonaram a bomba: a Prefeitura de São Paulo estaria apagando com tinta cinza obras de grafiteiros paulistanos, a pretexto do projeto Cidade Limpa. 'É essa obsessão de limpa, limpa, limpa', disse Gustavo. Em entrevista à rádio CBN, Andréa Matarazzo, da Prefeitura, argumentou que o grafite é uma arte efêmera por natureza. 'Muitas vezes o espaço consentido não tem o mesmo vigor', concorda Fábio Magalhães. Ele cita o caso de Nova York na gestão Rudolf Giuliani, que combateu o grafite. 'Ele apagava, eles iam lá e faziam de novo. Acho positiva essa briga.'

POLËMICA
Otávio e Gustavo Pandolfo, a consagrada dupla de grafiteiros osgêmeos, detonaram a bomba: a Prefeitura de São Paulo estaria apagando com tinta cinza obras de grafiteiros paulistanos, a pretexto do projeto Cidade Limpa. “É essa obsessão de limpa, limpa, limpa”, disse Gustavo. Em entrevista à rádio CBN, Andréa Matarazzo, da Prefeitura, argumentou que o grafite é uma arte efêmera por natureza. “Muitas vezes o espaço consentido não tem o mesmo vigor”, concorda Fábio Magalhães. Ele cita o caso de Nova York na gestão Rudolf Giuliani, que combateu o grafite. “Ele apagava, eles iam lá e faziam de novo. Acho positiva essa briga.”


Serviço
Street Art - do Graffiti à Pintura. MAC Ibirapuera - Pavilhão Ciccillo Matarazzo. Av. Pedro Álvares Cabral, s/n.º, 3.º piso, portão 3 do Parque do Ibirapuera, 5573-9932. De 3.ª a dom., 10 h às 19 h.Grátis. Até 17/2.

(© Estadão)

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