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Museu mostra a antiga arte de fazer vinho e cerveja

17/10/2000

 

 

NOVA YORK - Grandes companheiros do homem para agüentar o dia-a-dia, animar festas ou celebrar deuses, o vinho e a cerveja são duas das bebidas alcoólicas mais antigas. A origem delas tem cerca de 6 mil anos e vem das terras do Oriente Médio. Até mesmo os essênios, de sobriedade célebre, tinham uma espécie de Festival do Beaujolais Nouveau, o "tirosh", comemoração pelo vinho novo mencionada num dos Documentos do Mar Morto. No Egito antigo, as crianças tomavam cerveja na escola e casais da Mesopotâmia refrescavam-se durante as relações íntimas sorvendo o líquido de canudinho.

Curiosidades como essas e cerca de 180 objetos de arte e artesanato compõem Drink and Be Merry: Wine and Beer in Ancient Times, exposição que o Jewish Museum de Nova York apresenta até o dia 5 de novembro. Organizada pelo Museu de Israel, de Jerusalém, a exposição relembra as formas de produção e consumo de vinho e cerveja naquele país, em Roma, na Grécia, na Mesopotâmia e no Egito, num período que vai desde 4 mil anos antes da era cristã até o século 7, quando a expansão do islamismo refreou os costumes etílicos na região.

   Tendo Noé como personagem, está no Gênesis a primeira referência bíblica relacionando o cultivo da uva a um porre de vinho. Com freqüentes citações do Antigo Testamento como essa, do Torá (O Pentatêuco judaico) e de profetas, Drink and Be Merry aborda a história das duas bebidas, mas dá mais ênfase ao vinho e seu papel entre os antigos judeus.

   As primeiras evidências de vinicultura foram encontradas nas regiões montanhosas do Irã. Dali ela espalhou-se pelo Império Romano e pela Grécia.

   Com invernos amenos e verões escaldantes, Israel sempre foi terra ideal para vinhedos. Assim como nas outras duas regiões, o vinho também era uma bebida básica por lá, onde a produção teria começado por volta de 3 mil anos atrás.

   A colheita era um tempo de festa da qual participava gente de qualquer idade. Segundo a Mishná, um código de leis orais do segundo século, nessa época as moças de Jerusalém vestiam-se de branco e dançavam entre os vinhedos para atrair os rapazes solteiros. Instrumentos de corte dos cachos, cestas para recolher os frutos, pedras quadradas sobre as quais eles eram amassados com os pés, recipientes cilíndricos para recolher o suco e grandes jarros de barro para fermentação mostram como se fazia o vinho há cinco milênios. Objetos de arte como pequenas placas de terracota representam cenas dessas atividades com equipamentos semelhantes, séculos e séculos mais tarde, na Itália.

Herodes

   Os vinhos italianos já eram famosos e exportados havia quase mil anos, pelo que comprovam ânforas encontradas em Massada, na Judéia. Era prática indicar o vinhedo e dar nome aos vinhos e as ânforas de Massada, com inscrições em latim, revelavam além disso terem vindo da Itália e ainda a quem se destinavam: "Para o Rei Herodes da Judéia."

   Os povos antigos acreditavam que o vinho fora inventado pelos deuses e por isso a bebida tinha grande importância nos cultos religiosos. Baco para os romanos e Dionísio para os gregos, o deus do vinho, da fertilidade e da vegetação também era popular entre judeus. Em escavações na cidade helenística de Scythopolis, próxima a Beth Shean, em Israel, foram encontrados vários altares de pedra, estátuas de mármore e diferentes objetos de culto àquela entidade criados há 1.800 anos.

   É surpreendente a variedade de vinhos antigos, conseqüência do tipo de uva, da região e do processo usado para produzi-lo. Para preservá-los e mudar seu gosto, adicionavam-se ervas, mel, sal ou água do mar e até pimenta. Os compradores faziam degustações em lojas e tabernas, levando o líquido para casa em ânforas e decantadores. Para o transporte terrestre em distâncias curtas e consumo rápido, usavam-se odres que têm imitações feitas até hoje.

   A vantagem é que os odres tinham grande capacidade e podiam expandir-se com os gases da fermentação, enquanto os jarros explodiam.

   No inverno, os romanos gostavam de tomar vinho misturado com água quente. A água era aquecida num vaso de luxo, chamado milinarium, do qual a exposição tem vários exemplos. De início só para ricos, guardado e consumido em vasos e copos de metais nobres ou de vidro, o vinho foi se infiltrando nas outras camadas sociais e, ainda entre os romanos, ia até para a guerra como parte do suprimento dos soldados. Utensílios de barro parecidos com moringas seriam usados por eles para transportar a bebida, que tinha a capacidade tanto de elevar o moral das tropas como de desinfetar a água. 

Popular

   Se não era bom para as uvas e, conseqüentemente, para a produção de vinho, o clima quente e seco da Mesopotâmia e do Egito era ótimo para o trigo e a cevada empregados na fabricação da cerveja. A segunda parte de Drink and Be Merry mostra o passado longínquo dessa bebida, mais popular desde que foi inventada. Embora fosse uma paixão nacional, esse resultado da fermentação dos grãos era tão complicado que os cervejeiros eram os únicos profissionais da Mesopotâmia considerados sob proteção divina.

   O processo tinha início com os grãos sendo umedecidos para germinar por um dia e formar o malte, que então era exposto ao sol ou colocado num forno para secar. A substância seca era moída, misturada com várias especiarias para determinar o gosto e moldada como um pão de forma. Os pães também eram assados, moídos e postos de molho na água dentro de uma espécie de barril.

   Só nessa fase começava a fermentação. Depois de alguns dias, o líquido pingava através de furos no fundo do barril para outro recipiente. A fermentação continuava por mais alguns dias, tempo em que o teor alcoólico do que parecia então um xarope grosso subia para 6% ou 8%.

   Diferentemente do vinho, a cerveja não podia ser preservada por muito tempo, tinha de ser bebida logo. Vinha com pedaços de grãos e palha e precisava ser coada em peneirinhas cônicas de metal ou tomada de canudinho de capim - o que muitas vezes os bebedores faziam diretamente dos jarros.

   No Egito, a cerveja não era oferecida aos deuses por ser considerada uma receita só para os simples mortais. Para esses, no entanto, ela fazia parte da dieta básica, incluída na ração diária dos trabalhadores, soldados e estudantes. Os gregos e romanos achavam isso um costume de bárbaros e essa opinião era partilhada pelos judeus, conforme explicam os textos que acompanham a exibição.

   Na última galeria, encontra-se a recriação de uma sala de banquete, espaço criado na Grécia clássica e adotado mais tarde pelos romanos e pelos judeus de Israel. O cômodo servia para o dono da casa receber seus convidados e beber antes da refeição. A sala recriada no museu tem uma das peças mais bonitas da mostra. É um piso de mosaico de pedra, feito provavelmente no século 3, com uma cena da Eneida. Em torno dele há três bancos nos quais os visitantes podem reclinar-se como faziam os convidados na antiguidade. Só faltam os drinques para que se complete o convite feito no título da exposição: beba e seja feliz. (Tonica Chagas, OESP)


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